No dia 11 de março de 1977 o curta-metragem Di-Glauber, do cineasta Glauber Rocha sobre a morte do pintor Di Cavalcanti fez sua estreia na Cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, provocando risos e aplausos na plateia composta por 500 cinéfilos.
Mas foi somente dois anos após sua estreia, quando exibido em circuito comercial, que o filme foi apreendido através de um mandado de segurança impetrado pela filha do pintor, Elizabeth Di Cavalcanti, sob a alegação de que o filme “denigre a imagem do pintor Di Cavalcanti física e moralmente”,[1] que é uma “usurpação da imagem”, e que faz “apologia da morte”. Na sentença da interdição do filme a alegação era de que “causa uma clara lesão à personalidade de Di Cavalcanti”; “fere o sentimento íntimo dos herdeiros”; “filha se sente chocada ao se defrontar com a face patética do seu pai”. Um perito chega ao extremo de afirmar numa matéria do jornal O Globo, de 02 de junho de 1981: “É toda uma demoníaca montagem tendo como centro o corpo do pintor, ficando inclusive sua face deformada pela moléstia”.
Outro ponto que gostaríamos de levantar, diz respeito às próprias declarações do cineasta Glauber Rocha sobre o movimento do cinema marginal por ele denominado de udigrudi. Em entrevista a revista Debate e crítica, em abril de 1975 o cineasta afirma: “Os filmes udigrudi são ideologicamente reacionários porque psicologistas e porque incorporam o caos social sem assumir a crítica da história e formalmente, por isso mesmo, regressivo. São uma mistura de Godard anarquista pré-67 e do formalismo fenomenológico e descritivo de Warhol, e nenhum deles conseguiu o que pretendia: liberar o inconsciente coletivo subdesenvolvido num espetáculo audiovisual totalizante.” (citado em Sidney Rezende (organizador) Ideário de Glauber Rocha. Philobiblion, Rio de Janeiro, 1986, p. 80).
A declaração acima do cineasta é resultado de uma polêmica entre os cineastas marginais e os cineastas do Cinema Novo. Nos anos de 1969 e 1970 os cineastas Rogério Sganzerla, Júlio Bressane e a atriz Helena Inêz deram entrevistas na imprensa, criticando e ironizando o Cinema Novo. Glauber Rocha não deixou por menos e também fez as suas críticas ao cinema marginal. Chegou ao ponto de afirmar que o único filme realmente underground é Câncer (1969) dirigido pelo próprio cineasta. (em Ramos, obra citada, p. 388). De fato, Câncer é sem sombra de dúvida, o filme de Glauber Rocha considerado “marginal”
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