O objetivo de leibniz era a unificação do conhecimento numa base que eliminasse a constante desunião e as guerras a que a humanidade esteve sujeita.
Deus criou o mundo pelo numero, e o numero é ser.
Leibniz fez uma importante contribuição para a história do argumento ontológico. Suas reflexões sobre essa forma de argumento remontam aos anos 1670, e sabemos que ele compartilhou suas reflexões sobre esse assunto com Espinosa quando o visitou a caminho de Hannover. De acordo com Leibniz, o argumento que Descartes dá implicitamente na Quinta Meditação e explicitamente no Primeiro Conjunto de Respostas é falho. Descartes havia argumentado que Deus é um ser com todas as perfeições, a existência é uma perfeição, portanto, Deus existe (AT VII 118-19/CSM II 84-85). Porém, pensa Leibniz, é preciso mostrar que é possível que tal ser exista, ou seja, que é possível que todas as perfeições coexistam em um só ser. Se assim for, então, e só então, se pode dizer que existe um ens perfectissimum. Em seu pequeno ensaio intitulado Que um Ser Perfeito Existe (Quod ens perfectissimum existit) de 1676, Leibniz argumenta exatamente isso. Ele define uma “perfeição” como uma “qualidade simples que é positiva e absoluta, ou, que expressa sem quaisquer limites o que quer que ela expresse” (A VI iii 578/SR 101). E com tal definição em mãos, Leibniz é então capaz de afirmar que não pode haver inconsistência entre as perfeições, já que uma perfeição, por ser simples e positiva, é inanalizável e incapaz de ser encerrada por limites. Ou seja, se A e B são perfeições, então a proposição “A e B são incompatíveis” não pode ser demonstrada porque A e B são simples, nem a proposição pode ser conhecida per se. Portanto, é possível que toda e qualquer perfeição seja, de fato, compatível. E, portanto, raciocina Leibniz, um sujeito de todas as perfeições, ou um ens perfectissimum, é de fato possível.
Porém, esse argumento por si só não é suficiente para determinar que Deus necessariamente existe. Leibniz também deve mostrar que a existência é em si mesma uma perfeição, para que se possa dizer que um ser que tem todas as perfeições, um ens perfectissimum, existe. Mais exatamente, Leibniz precisa mostrar que a existência necessária pertence à essência de Deus. E isso ele faz em outra breve peça desse período, escrevendo “com efeito, um ser necessário é o mesmo que um ser de cuja essência se segue a existência. Pois um ser necessário é aquele que necessariamente existe, de tal forma que sua não existência implicaria uma contradição e, portanto, entraria em conflito com o conceito ou essência desse ser” (A VI iii 583/SR 107). Em outras palavras, se um ser necessário é a mesma coisa que um ser cuja existência decorre de sua essência, então a existência deve, de fato, ser uma de suas propriedades essenciais. Leibniz continua nesta breve reflexão: “E assim a existência pertence a seu conceito ou essência”. A partir daí temos um esplêndido teorema, que é o ápice da teoria modal e pelo qual se move de uma forma maravilhosa da potencialidade para o ato: Se um ser necessário é possível, segue-se que ele existe atualmente, ou, que tal ser é atualmente encontrado no universo” (A VI iii 583/SR 107). O “pináculo da Teoria Modal” que Leibniz menciona aqui não é outro senão um dos notórios axiomas da lógica modal S5: ◊□p → □p. Em resumo, o argumento de Leibniz é o seguinte:
- (1) Deus é um ser que tem todas as perfeições. (Definição)
- (2) Uma perfeição é uma propriedade simples e absoluta. (Definição)
- (3) A existência é uma perfeição.
- (4) Se a existência é parte da essência de uma coisa, então ela é um ser necessário.
- (5) Se é possível que um ser necessário exista, então um ser necessário existe.
- (6) É possível que um ser tenha todas as perfeições.
- (7) Portanto, um ser necessário (Deus) existe.
Deve-se notar que o argumento de Leibniz tem uma certa afinidade com o argumento ontológico que Gödel apresenta, na medida em que também procura demonstrar a possibilidade de um ser ter todas as propriedades simples e positivas. (Para o argumento de Gödel, ver o verbete sobre argumentos ontológicos).
https://diariointelectual.com.br/2023/01/23/gottfried-wilhelm-von-leibniz/